domingo, 17 de maio de 2015

DIA DE JOGO

Abri os olhos ainda na preguiça. Nem eram 8 ainda.
Nada no ZAP e a manhã parecia calma. Nem parecia que as 11 eu teria que estar em Realengo.
De véspera, hábito adquirido com meu avô Olympio, já havia arrumado meião, chuteira, short, separado as bananas, colocado a água no congelador e arrumado outras coisas na mochila: dorflex, um gelol genérico, um par de meias a mais e outro calção, afinal, vai que...
Ah sim, e tinha a camisa, com meu nome e o ano do meu nascimento.
Tudo pronto. Até eu mesmo.
Mal deu 9:05 e o tel começou a apitar.
Cadê o goleiro? Me atrasei. To chegando. To saindo. Já to aqui. Achei o goleiro. Já foi. Tem que pegar a câmera. Que horas aonde? Não vou mais. Ele não vai. Volta. Sobe, muda, desce, arruma. Parti.
O trajeto foi tranqüilo e todos já aguardavam ali em frente a UERJ. Uma pequena volta pra pegar a GO Pro com o Mingau, e pegamos a estrada.
Atrasados? Sim. E chegamos pontualmente as 11:05.
A escalação já tinha sido feita na resenha de quinta. Um não veio. Entra esse outro e pronto. Entramos em campo.
Não. Ainda rola uma partida. Como assim?
Vai daqui, dali, mais resenha... Alongar, alongar, alongar...
Uma das únicas coisas que realmente sinto saudade da juventude é acordar sem dor.
Alongar, alongar, alongar.
Priiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Entramos. Par ou impar, começamos contra o sol. E que sol.
Ainda bem que papai do céu foi bacana e meteu umas nuvens para aliviar.
Parado ali durante o minuto de silêncio sentia a banana dar reflexo na barriga. Nada que atrapalhe aquela pequena oração pro pai do amigo que faço ali. Tomara que conforte.
E o juiz apita e a bola rola.
Quem joga futebol de onze e não só pelada sabe que é tudo muito mais rápido. A primeira bola que recebi joguei na frente e o lateral chegou fácil. Mais leve, mais rápido, mais jovem.
Recuei um pouco e deixei alguém igual a ele avançar.
Ali ainda dava, tranqüilo. A segunda bola que recebi aparei com a cabeça, num um dois, e a jogada foi bacana. Estava funcionando.
A defesa do Boêmios estava sólida, bacana mesmo, parecia entrosada de anos e não apenas um jogo.
Uma jogada rápida, pênalti, abrimos o placar. No afâ avançamos e começo a gritar pra menos.
Aquele 1 x 0 já era goleada e a gente estava bem, seguro. Talvez já na metade do primeiro tempo.
Mas a vontade de fazer gol as vezes é maior que qualquer outra necessidade. E adiantamos a marcação. Gol deles.
Ajeita, arruma, volta, marca, ta errado, como se grita no campo. E as vezes grita-se a toa pois quem esta longe não ouve. E de novo caímos no mesmo erro e a bola lançada que encobriria o goleiro é parada por ele com as mãos...
Mão na bola, último homem e vi com dor o juiz correndo com o cartão vermelho.
Improviso no gol, menos um na linha o que poderia se esperar? Em alguns esportes seria a morte, mas no futebol... Algo mágico acontece. E ainda no primeiro tempo pressionávamos.
Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Água, banana, papo, calma, arruma, ajeita e sai.
Do banco a agonia é maior. Muito.
Gritei muito. Muito. E eles fizeram mais um.
Sentindo que crescíamos em campo a primeira bola é lançada para fora, além muro, sobra uma bola. E volta o jogo.
Mais superação, grito, volta, marca, não desiste! Uma bola lançada, uma bela jogada pela esquerda e vejo com alegria a bola balançando a rede.
Da pra chegar. Acredito. Caminho de um lado pro outro e no zap mando informes para os amigos que torcem a distância.
Quando surge o pênalti. Como num filme holywoodiano é a redenção merecida a quem corre atrás e supera seus limites.
Merecíamos. Deus é justo.
Ajeita, prepara, apito, corrida, bate bonito na bola tirando no goleiro e... Trave. Sim, tem a trave. Que esta ali por acaso, pra por limite, pra segurar a rede e às vezes é cruel.
Corremos muito atrás e eles no chutão. Outra bola pro mato.
PRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!
E num piscar de olhos passa a hora, o jogo, aquele momento bacana.
Nosso segundo jogo e todo mundo com a sensação de vitória. De que faltou pouco.
Futebol tem dessas coisas. Só quem joga sabe.
E com certeza esta história ficou ali pelo campo em cada um dos 14 que jogaram.
Cacos, fragmentos, pedaços na grama, na areia, na trave, na rede, na cabeça da gente.
Nas bolas que ninguém buscou. Ta tudo ali.
Agora é esperar dia 13 e ver que história Realengo nos contará.
Até lá, Boêmios.

Por Marton Olympio

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